Lá do alto

Olhando para o passado hoje, voltando aos meus quatorze/quinze anos, por exemplo, eu fico pensando em como minha vida era 'fácil'. Minha maior preocupação era passar no Cefet/Coltec e se não passasse, para qual escola eu iria. Também me preocupava se minhas amizades do ensino fundamental durariam para sempre, apesar de eu não ter muita noção do que era 'para sempre'. Preocupava-me se meus pais descobririam que metade do valor da altíssima conta de telefone era resultado das minhas intermináveis conversas com minhas 'eternas' melhores amigas. Eram preocupações legítimas para aquela época, mas que hoje parecem totalmente banais.

E hoje, a Débora de vinte e um anos se pegou, no alto de uma montanha, olhando para a Débora de quinze anos, e pensando em como ela deveria ter se compreendido mais, se valorizado mais, entendido mais suas escolhas, mas ela não sabia naquela época. E ainda não sabe muita coisa, mas o que ela sabe, faz sentido, e ela pôde ajudar e abrir a cabecinha de uma aluna dela.

Essa aluna faz parte de uma turma que está nos seus quatorze/quinze anos, cheios de energia, mas cheios de 'problemas', os quais, eles ainda não sabem, mas daqui uns 5 anos vão fazê-los rir.
C, minha aluna preferida e da qual já falei algumas vezes aqui, é uma menina linda, bacanérrima e tem uma inocência que é bonita demais de se ver. Ela tem uma certa semelhança com aquilo que eu gostaria de ser quando era da idade dela, e acho que é por isso que eu tenho um carinho super especial por ela. Mas então, hoje ela chegou na aula atrasada e com uma carinha péssima. Ficou a aula inteira de cabeça baixa e só levantava quando eu reforçava que o exercício era importante e ao final, quando fomos tirar os papéis para o nosso amigo-doce, ela também parecia um pouco melhor. Mas foi quando fui lanchar entre o intervalo de uma aula e outra que pude conversar com ela e descobrir um pouquinho do coração dela.

Cheguei lá e C estava sentada com dois amigos, não quis atrapalhar e nem bancar 'a professora'. Peguei meu lanche e sentei em outra mesa. C, que me chama de Dézinha, me viu e veio puxar assunto. Aproveitei a deixa pra perguntar porque ela estava triste. Ela ficou meio relutante, mas sem eu forçar, ela começou a falar. Disse que a vida dela era uma droga, que nada dava certo pra ela e eu pedi pra ela me dar um exemplo de um problema e eis que o tal exemplo foi 'Eu não vou passar no Cefet porque eu sou burra'.

D. 'Uai, e o que que tem se não passar? Você quer tentar vestibular pra quê?'
C. 'Pra Música'
D. 'E o que cê vai caçar no Cefet?'

Comecei a mostrar pra C que ela não tem que passar no Cefet. Que se ela passar, ótimo, mas que isso não é tudo na vida. Que eu não passei e, graças a Deus por isso. O que eu, hoje estudante de Letras, iria fazer com um curso técnico de Eletrônica sendo que eu num sei nem o que é uma função, um algarítmo... ? Tentei mostrar pra C que a vida é difícil mas que dá pra ser divertida demais também. Que ela, uma menina tão bacana e linda, tem mais é que se divertir hoje e não viver 10 anos a frente do presente. Que ela tem mais é que sonhar, que aproveitar os amigos hoje, a escola, a família. E fiquei feliz demais quando, D, melhor amiga de C, chegou na lanchonete e nos viu conversando. Daí C viu como viver o hoje é muito melhor, que amanhã, a gente não sabe de nada e que o que importa mesmo, é ter o coração aberto, a cabeça cheio de sonhos e muita força de vontade, que muita coisa pode dar errado, mas e daí? A gente ta aqui pra aprender e rir com os erros também. E enchi meu coração de alegria quando vi aquele sorrisão de volta ao rosto de C. E fiquei feliz porque sei que, hoje, eu fiz diferença na vida de alguém...

beijos,
Deb

4 comentários:

Juliana disse...

puxa. até me arrepiei aqui. hehehe

Unknown disse...

Oieeee!!! Conheço essa fotoooo e principalmente esse lugar...

Felipe Fagundes disse...

É muito quando influenciamos uma pessoa positivamente, né? Ainda mais quando sentimos apreço por ela.

Eu também já fiquei nesse mesmo desespero de "Se eu não passar no Cefet pra onde vou?". É uma sensação péssima. Graças a Deus eu passei e foi uma ótima escolha, no meu caso. Mas cada um deve seguir aquilo que gosta senão a vida perde a graça.

Cíntia Mara disse...

Eu amo o CEFET, muito do que eu sou e tenho hoje, devo ao que vivi lá e não sei o que seria de mim se tivesse que estudar na escola estadual onde eu fiz o ensino fundamental. Mas a visão que as pessoas de fora têm de lá é muito romantizada. Sua aluna me lembrou vários de meus colegas de 10 anos atrás, que os pais estudaram lá e os filhos já nasceram sabendo que teriam que passar. (O que aconteceu com a minha prima por exemplo, que tá praticamente seguindo os meus passos e ninguém nunca pergunta se é isso mesmo que ela quer.) Isso me faz pensar em como nós hoje influenciamos sem querer os mais novos. Sei lá, é tanta gente observando... Chego na igreja e vejo as meninas pequenas tentando imitar os passos de dança, os meninos em volta da bateria. Isso me assusta, rs.

Ai, tô filosofando demais, deixa pra lá, hauhauhauha.
Bjos

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